sábado, 20 de agosto de 2016

Rio 2016: cidade maravilha, cidade mercadoria



Centro do Rio de Janeiro: a pira olímpica e a chama acesa da mercantilização do esporte

"Comando de comando submundo de madame
Comando de comando submundo da TV
Submundo deputado - submáfia aposentado
Submundo de papai - submáfia da mamãe
Submundo da vovó - submáfia criancinha
Submundo dos filhinhos"
(Rio 40 graus - Fernanda Abreu) 


Estação Parada dos Navios no Centro do Rio
Quando uma cidade se torna sede de um Megaevento como por exemplo as Olimpíadas, ela sofre uma grande transformação urbanística e social promovida pelo grande capital internacional cujas intenções óbvias são a de transformar toda a cidade em uma imensa mercadoria a ser publicizada e vendida para clientes, telespectadores, turistas e torcedores em todo o planeta. 

Caos no trânsito do Rio: região da Central do Brasil


Tais mudanças não respeitam as necessidades ou interesses locais, a própria população local não é consultada ou previamente informada sobre os futuros projetos de mudanças. As leis como os planos diretores da cidade, os direitos dos consumidores e a democratização dos espaços urbanos são colocados em segundo plano para darem lugar às imposições do grande capital com seus interesses em auferirem o maior lucro possível na realização do megaevento.

Merchandising por todos os lados no Rio
Um dos mecanismos mais eficazes para se atingir os objetivos e anseios do voraz e insaciável capital nos megaeventos é a utilização do discurso midiático juntamente com a repressão policial. Os despejos de famílias de áreas pobres e as desapropriações de moradias através de ações violentas é uma estratégia bastante comum utilizadas pelos governos locais a mando do grande capital.
Tais políticas de desapropriações em massa e também do uso da força de repressão policial foi e está sendo frequentemente observada na preparação e realização dos Jogos Olímpicos Rio 2016. O despejo das centenas de famílias da Vila Autódromo e da comunidade Vila União na cidade do Rio de Janeiro comprovam a tese de que a realização dos Megaeventos são na realidade efetivadas de forma violenta e sem a participação popular dentro de uma lógica de imposição do grande capital, onde todas as decisões são tomadas de forma verticalizada e autoritária dentro dos gabinetes das prefeituras, governos e das empresas multinacionais.

Shopping do COI a céu aberto  no centro do Rio
Quem pôde participar das Olimpíadas Rio 2016 e andar pelas ruas da cidade carioca ou nas grandes e suntuosas arenas olímpicas, observou as grandes mudanças experimentadas pela cidade ao sediar as Olimpíadas. 
Andar no centro do Rio durante os jogos era como caminhar em um imenso shopping center a céu aberto. 

Mercantilização dos espaços públicos no centro carioca
Painéis luminosos nas calçadas, balões infláveis por toda a parte, estandes de empresas construídas nas praças e avenidas e ainda com uma multidão fazendo o "vai e vem" nas ruas e calçadas congestionadas. 
Para além das mudanças observadas como as aberturas de novas avenidas, construções de corredores de ônibus (BRT), novos museus e novas construções de prédios e hotéis de luxo, têm-se também os elevados gastos públicos, o endividamento nas contas públicas e o superfaturamento de várias obras e muitas contratadas sem licitação.

Cidade à venda: Rio em "promoção"
O centro do Rio de Janeiro passou por uma revitalização de uma área outrora degradada como a região portuária da praça Mauá, que se transformou no famoso Boulevard Olímpico. Esta área, até poucos anos atrás era totalmente abandonada pela prefeitura, sem iluminação pública adequada, sem espaços de lazer e seus moradores na maioria pobres não recebiam quaisquer tipo de assistência social, sua população era na maioria composta por moradores de rua, mendigos, travestis e camelôs (vendedores informais). 

Stands de vendas espalhados pelo centro do Rio 
Entretanto com as preparações para os Jogos Olímpicos esta região central da cidade sofreu uma intensa modificação urbanística para dar lugar às instalações comerciais e de lazer para as olimpíadas, recebendo estações do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), o Museu do Futuro, revitalização da Praça Mauá, construções de vários arranha-céus de vido para sediar os novos hotéis de luxo. Tudo isso para tornar a cidade mais apresentável e vinculada a uma imagem higienicamente mais agradável aos consumidores em escala mundial. A cidade do Rio se transformou literalmente em uma mercadoria para ser apresentada e vendida ao mundo, com uma maquiagem suficiente para transformar sua imagem frente às poderosas lentes das câmeras de TV do mundo inteiro. 
Vê-se assim que o mesmo capital que deteriorou os antigos espaços urbanos do Rio, como a região central, que destruiu as paisagens e degradou a qualidade de vida dos moradores deste local, preterindo esta região para valorizar outras áreas nobres sob a lógica da especulação imobiliária, agora faz o trajeto contrário, ou seja, valorizar uma área que estava desvalorizada e dar continuidade à exploração e aos lucros, seguindo o ciclo capitalista de destruir, reconstruir e destruir.

Mudanças no centro do Rio para o Boulevard Olímpico

Mas para "embrulhar" a cidade do Rio neste imenso "papel de presente com lacinhos verde-amarelo" os moradores cariocas tiveram que pagar (e ainda estão pagando e vão continuar pagando por muito tempo) um preso muito caro. A expulsão de mendigos e travestis do centro do Rio  durante os Jogos Olímpicos, as complicações do trânsito diante das preparações e execução das obras para os Jogos, a alta especulação imobiliária que provocou aumento nos aluguéis e no custo de vida carioca, o aumento dos preços de alimentos e combustíveis e ainda o endividamento brutal do Estado do Rio de Janeiro que atualmente não possui sequer dinheiro nos cofres públicos para o pagamento dos funcionários públicos e investimentos em áreas sociais prioritárias como a saúde e educação.

Não é o Fifa Fan Fest mas o Palco Olímpico na Rio 2016: mas é a mesma coisa.


"Que terminem o Jogos rapidamente"

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