sexta-feira, 22 de julho de 2016

Guerra Fria, Doping e as Olimpíadas Rio 2016


"O espetáculo é uma permanente Guerra do Ópio para fazer com que se aceite identificar bens a mercadorias; e conseguir que a satisfação com a sobrevivência aumente de acordo com as leis do próprio espetáculo. " (Guy Debord)

O maior marco das Olimpíadas de Moscou em 1980 não foi a lágrima derramada pelo simpático ursinho Misha, o mascote olímpico, durante o encerramento dos Jogos de Moscou realizado pela antiga URSS. O grande marco foi de fato a ausência de vários países ocidentais encabeçados pelos EUA como retaliação à invasão da ex-URSS ao Afeganistão no ano anterior (1979). Naquela época o mundo vivia o período chamado de Guerra Fria, a polarização do planeta entra EUA, defensores do regime capitalista e a ex-URSS, defensora do comunismo. 
Os grandes eventos esportivos sempre  foram alvos e instrumentos ideológicos, utilizados continuamente como forma de propaganda política de  governos  de diferentes países em todo o mundo (assim como hoje).


Ursinho Misha: mascote dos Jogos Olímpicos de Moscou em 1980

Já nas olimpíadas de Los Angeles em 1984 foi a vez da antiga URSS boicotar os jogos realizados em solo americano, revidando o boicote sofrido em 1980.
Atualmente, faltando apenas duas semanas para o início das Olimpíadas do Rio 2016, os acontecimentos demonstram que a Guerra Fria não terminou, como pensavam erroneamente vários historiadores, pois os interesses e a luta pela hegemonia entre estas duas potências nucleares ainda continua, porém ambas do "mesmo lado" defendendo e pregando o proselitismo espetacular do turbo-capitalismo globalizado. E os conflitos entre EUA, UE e Rússia estão se refletindo agora também nos Jogos Olímpicos Rio 2016. 
A ocupação recente da região da Crimeia pela Rússia, contrariando os interesses econômicos da União Européia (UE) e EUA e ainda com as constantes intervenções e conflitos militares na Ucrânia, região estratégica localizada próximo ao Mar Negro, e também conhecida pelas eternas disputas e interesses das grandes potências internacionais, tem provocado instabilidade nas relações destes países em questão. Os recentes conflitos no Oriente Médio como os genocídios e bombardeios contínuos às cidades da Síria, Líbia e Iraque tem como protagonistas os EUA e a União Européia (UE) de um lado e a Rússia de outro, onde rebeldes e governos daqueles países são apoiados pelas políticas intervencionistas dos Estados aliados a Washington ou por aliados a Moscou. 
Os reflexos deste fogo cruzado entre as potências mundiais são facilmente observados também nos Jogos Olímpicos Rio 2016 através dos atuais escândalos, acusações, punições e banimento de atletas e delegações às vésperas do início das Olimpíadas do Rio.
O governo Russo está sendo acusado de promover um complexo e sistêmico mecanismo de doping de atletas olímpicos para obtenção de recordes esportivos e de medalhas. Entretanto, é sabido que todos os países e governos do mundo possuem sistemas idênticos, porém não revelados (secretos) para dopagem de atletas de alto rendimento que representam seus respectivos países. 
Os mecanismos e tecnologias de doping atuais são tão avançados que se quer os instrumentos anti-doping das agências internacionais são capazes de detectar, por isso as amostras de urina e sangue de atletas olímpicos são guardadas até mesmo por várias décadas a fim de serem, num futuro remoto, detectáveis por novas tecnologias anti-doping a serem inventadas e equiparáveis às tecnologias atuais de doping, para que possam detectar alterações químicas importantes nos atletas.
A descoberta reveladora (?) de doping sistêmico em atletas russos tem levado o Comitê Olímpico Internacional (COI) a receber forte pressão dos EUA e União Européia para banir toda a comitiva olímpica russa dos Jogos Rio 2016. Vê-se assim, que a questão do doping é apenas mero pretexto para a continuidade da Guerra política e comercial entre as potências mundiais. Guerra Fria ou Guerra do doping? Agora o que está em jogo não são apenas medalhas, pódios ou recordes olímpicos mas sim a hegemonia política sobre a região da Crimeia e da Ucrânia, assim como também a influência econômica e política sobre o Oriente Médio.
Se esta política de banimento de delegações olímpicas por doping sistêmico fosse realmente levada a sério, não existiria mais Olimpíadas, pois todos os atletas e delegações seriam banidas completamente e não escaparia ninguém. 
Infelizmente o doping tem se tornado algo comum e "necessário" para com que atletas mantenham o seu alto rendimento e adquiram medalhas e possam subir aos pódios esportivos em várias modalidades. A pressão contínua por índices olímpicos sempre melhores, a forte influência dos patrocinadores e o assédio da mídia, que busca sempre transformar o esporte em espetáculo, praticamente obrigam os atletas a se doparem e atingirem sempre as metas impossíveis para atletas ditos "normais" (ou que não usam o doping). Os atletas modernos são desumanizados por anabolizantes e fármacos, sendo transformados do dia para a noite em "super-homens" e ao mesmo tempo em celebridades com contas bancárias gordas e recheadas de milhões de dólares, garotos(as) propagandas de refrigerantes e de bancos, ainda em frequentadores assíduos de programas de Talk-shows, e o que é pior, são eleitos como exemplos de vida para crianças e jovens de todo o mundo, alimentados e iludidos pela irônica e mentirosa frase de que "o esporte afasta os jovens das drogas". Os atletas que não usam os fármacos indicados (químicas permitidas ou não permitidas) jamais experimentam a subida ao pódio olímpico.
Ao contrário do que pregava o Barão Pierre de Coubertin ("pai dos jogos olímpicos modernos") podemos concluir que de fato não existe Fair Play ou jogo limpo no esporte moderno, jamais existiu e nunca existirá. 
Que comece o jogo sujo do capital globalizado!

QUE COMECEM OS JOGOS!

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