sexta-feira, 8 de julho de 2016

Brasil Olímpico: as contradições na trajetória da tocha olímpica

"A vedete do espetáculo, a representação espetacular do homem vivo, ao concentrar em si a imagem de um papel possível, concentra pois essa banalidade (...) num caso, é o poder governamental que se personaliza em pseudovedete; no outro, é a vedete do consumo que se submete a plebiscito como pseudopoder sobre o vivido" (GUY DEBORD)

Estado atual da tabela de basquete de área pública na cidade de Goiânia

Na trajetória do revezamento da Tocha Olímpica se encontra a cidade de Goiânia, a capital de Goiás, com uma população de cerca de 1.400.000 habitantes, e assim como as demais cidades brasileiras que recepcionaram a tocha, gastou-se milhões de reais para "maquiar" somente as ruas e avenidas escolhidas para a caminhada do revezamento da tocha. Jardinagem renovada, meios fios pintados, asfaltos recapeados, parques reformados, praças revitalizadas e prédios públicos com novas pinturas, mas apenas para satisfazer as exigências das transmissões televisivas em escala global, pois a cidade também deve transmitir uma estética "agradável" para com que ela própria se torne também mercadoria e faça parte das olimpíadas do espetáculo.
Reforma de área esportiva popular em Goiânia se arrasta por vário anos
Mais de 2 milhões de reais gastos em obras inacabadas

Nas Olimpíadas Rio 2016 a maior revelação que se observa no Brasil não é o número de medalhas que o país pode ou não conquistar, mas sim a plena exclusão da maior parte da população às práticas de esporte e de lazer. 
O esporte olímpico refere-se ao chamado esporte de alto rendimento, que envolve treinamento contínuo de atletas, altos investimentos, grande preparação e planejamento, porém acessível apenas a uma pequena elite de atletas com altos índices internacionais de desempenho que podem competir e também a um seleto número de clientes-torcedores que podem comprar os ingressos e contemplarem  os jogos nas caras e suntuosas arenas esportivas.
Mas quando se fala em esporte popular gratuito como forma de relacionamento, entretenimento, gozo, participação e humanização, então revela-se a total contradição do chamado "Brasil Olímpico". O Brasil sedia o maior e mais caro de todos os eventos esportivos do planeta, mas contraditoriamente não oferece à sua população o acesso ao esporte de forma pública, gratuita e democrática.

Estado de abandono da Praça dos Esportes Pedro Ludovico Teixeira 
O "País Olímpico" e o sucateamento dos equipamentos públicos de esporte em Goiânia

Uma grande ironia e também um bom exemplo desta "contradição olímpica" se refere à chamada Praça de Esportes do Setor Pedro Ludovico Teixeira localizada na periferia da cidade de Goiânia (ironicamente esta foi a primeira capital a receber o revezamento da tocha olímpica após a sua chegada em Brasília) e que deveria servir de acesso ao esporte e ao lazer público e gratuito para crianças, jovens, adultos e idosos, mas que se encontra atualmente praticamente abandonado e sucateado pelo poder público estadual. 

Olimpíadas para quem ?


A Praça de Esportes Pedro Ludovico Teixeira que leva o nome do fundador da cidade, é uma das mais antigas áreas de lazer da cidade. Ainda quando em funcionamento oferecia práticas esportivas gratuitas à população goianiense tais como futebol, lutas, natação, atletismo, jogos de mesa e até hidroginástica aos idosos do bairro. Há cerca de 5 anos foram paralisadas todas as atividades para início das reformas. Após vários anos de abandono total as obras somente iniciaram  em  2014. Entretanto, ainda em 2015 as obras foram paralisadas novamente e somente reiniciadas a partir de 2016 pelo governo estadual, deixando mais uma vez a população goianiense sem acesso a esta importante área de esporte e de lazer da capital. 
Não de forma coincidente o bairro Pedro Ludovico Teixeira, onde se encontra esta importante área de lazer, é também considerado um dos bairros mais violentos da cidade, entrando nas estatísticas das áreas de maior criminalidade de Goiânia.


As obras se arrastam até hoje e mais de R$ 2.000.000,00 já foram gastos e ainda encontra-se inacabada e sem prazo de entrega. Este é mais um exemplo das políticas neoliberais do governo que aniquilam por completo o esporte e o lazer público, a fim de favorecer tão somente o capital privado das indústrias dos megaeventos, dos shopping centers, do entretenimento privado e do esporte globalizado do grande capital internacional (Coca-Cola, MacDonald's, Nike, COI, FIFA e etc.). 
Ao contrário do que se observa em relação aos gastos e investimentos nas Olimpíadas Rio 2016, onde as obras encontram-se todas concluídas de acordo com o calendário previsto (R$ 45.000.000.000,00!!), as políticas públicas de esporte e de lazer não somente em Goiânia, como também na cidade do Rio de Janeiro e na maioria das cidades brasileiras são inexistentes e revelam as contradições do esporte excludente do nosso "Brasil Olímpico".

Moradores de Goiânia reclamam do abandono da praça de esportes
e também na demora na finalização das obras


 QUE COMECEM OS JOGOS!

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