sexta-feira, 22 de julho de 2016

Guerra Fria, Doping e as Olimpíadas Rio 2016


"O espetáculo é uma permanente Guerra do Ópio para fazer com que se aceite identificar bens a mercadorias; e conseguir que a satisfação com a sobrevivência aumente de acordo com as leis do próprio espetáculo. " (Guy Debord)

O maior marco das Olimpíadas de Moscou em 1980 não foi a lágrima derramada pelo simpático ursinho Misha, o mascote olímpico, durante o encerramento dos Jogos de Moscou realizado pela antiga URSS. O grande marco foi de fato a ausência de vários países ocidentais encabeçados pelos EUA como retaliação à invasão da ex-URSS ao Afeganistão no ano anterior (1979). Naquela época o mundo vivia o período chamado de Guerra Fria, a polarização do planeta entra EUA, defensores do regime capitalista e a ex-URSS, defensora do comunismo. 
Os grandes eventos esportivos sempre  foram alvos e instrumentos ideológicos, utilizados continuamente como forma de propaganda política de  governos  de diferentes países em todo o mundo (assim como hoje).


Ursinho Misha: mascote dos Jogos Olímpicos de Moscou em 1980

Já nas olimpíadas de Los Angeles em 1984 foi a vez da antiga URSS boicotar os jogos realizados em solo americano, revidando o boicote sofrido em 1980.
Atualmente, faltando apenas duas semanas para o início das Olimpíadas do Rio 2016, os acontecimentos demonstram que a Guerra Fria não terminou, como pensavam erroneamente vários historiadores, pois os interesses e a luta pela hegemonia entre estas duas potências nucleares ainda continua, porém ambas do "mesmo lado" defendendo e pregando o proselitismo espetacular do turbo-capitalismo globalizado. E os conflitos entre EUA, UE e Rússia estão se refletindo agora também nos Jogos Olímpicos Rio 2016. 
A ocupação recente da região da Crimeia pela Rússia, contrariando os interesses econômicos da União Européia (UE) e EUA e ainda com as constantes intervenções e conflitos militares na Ucrânia, região estratégica localizada próximo ao Mar Negro, e também conhecida pelas eternas disputas e interesses das grandes potências internacionais, tem provocado instabilidade nas relações destes países em questão. Os recentes conflitos no Oriente Médio como os genocídios e bombardeios contínuos às cidades da Síria, Líbia e Iraque tem como protagonistas os EUA e a União Européia (UE) de um lado e a Rússia de outro, onde rebeldes e governos daqueles países são apoiados pelas políticas intervencionistas dos Estados aliados a Washington ou por aliados a Moscou. 
Os reflexos deste fogo cruzado entre as potências mundiais são facilmente observados também nos Jogos Olímpicos Rio 2016 através dos atuais escândalos, acusações, punições e banimento de atletas e delegações às vésperas do início das Olimpíadas do Rio.
O governo Russo está sendo acusado de promover um complexo e sistêmico mecanismo de doping de atletas olímpicos para obtenção de recordes esportivos e de medalhas. Entretanto, é sabido que todos os países e governos do mundo possuem sistemas idênticos, porém não revelados (secretos) para dopagem de atletas de alto rendimento que representam seus respectivos países. 
Os mecanismos e tecnologias de doping atuais são tão avançados que se quer os instrumentos anti-doping das agências internacionais são capazes de detectar, por isso as amostras de urina e sangue de atletas olímpicos são guardadas até mesmo por várias décadas a fim de serem, num futuro remoto, detectáveis por novas tecnologias anti-doping a serem inventadas e equiparáveis às tecnologias atuais de doping, para que possam detectar alterações químicas importantes nos atletas.
A descoberta reveladora (?) de doping sistêmico em atletas russos tem levado o Comitê Olímpico Internacional (COI) a receber forte pressão dos EUA e União Européia para banir toda a comitiva olímpica russa dos Jogos Rio 2016. Vê-se assim, que a questão do doping é apenas mero pretexto para a continuidade da Guerra política e comercial entre as potências mundiais. Guerra Fria ou Guerra do doping? Agora o que está em jogo não são apenas medalhas, pódios ou recordes olímpicos mas sim a hegemonia política sobre a região da Crimeia e da Ucrânia, assim como também a influência econômica e política sobre o Oriente Médio.
Se esta política de banimento de delegações olímpicas por doping sistêmico fosse realmente levada a sério, não existiria mais Olimpíadas, pois todos os atletas e delegações seriam banidas completamente e não escaparia ninguém. 
Infelizmente o doping tem se tornado algo comum e "necessário" para com que atletas mantenham o seu alto rendimento e adquiram medalhas e possam subir aos pódios esportivos em várias modalidades. A pressão contínua por índices olímpicos sempre melhores, a forte influência dos patrocinadores e o assédio da mídia, que busca sempre transformar o esporte em espetáculo, praticamente obrigam os atletas a se doparem e atingirem sempre as metas impossíveis para atletas ditos "normais" (ou que não usam o doping). Os atletas modernos são desumanizados por anabolizantes e fármacos, sendo transformados do dia para a noite em "super-homens" e ao mesmo tempo em celebridades com contas bancárias gordas e recheadas de milhões de dólares, garotos(as) propagandas de refrigerantes e de bancos, ainda em frequentadores assíduos de programas de Talk-shows, e o que é pior, são eleitos como exemplos de vida para crianças e jovens de todo o mundo, alimentados e iludidos pela irônica e mentirosa frase de que "o esporte afasta os jovens das drogas". Os atletas que não usam os fármacos indicados (químicas permitidas ou não permitidas) jamais experimentam a subida ao pódio olímpico.
Ao contrário do que pregava o Barão Pierre de Coubertin ("pai dos jogos olímpicos modernos") podemos concluir que de fato não existe Fair Play ou jogo limpo no esporte moderno, jamais existiu e nunca existirá. 
Que comece o jogo sujo do capital globalizado!

QUE COMECEM OS JOGOS!

O Terrorismo de Estado, Barbárie e os Jogos Olímpicos Rio 2016



Fuzileiros Navais simulam desembarque na orla do Flamengo para conter manifestações no Rio durante os Jogos Olímpicos
"O espetacular concentrado pertence essencialmente ao capitalismo burocrático (...) Onde o espetacular concentrado domina, a polícia também domina." 
                                                                          (Guy Debord)

Durante o período que antecedeu a realização da Copa FIFA 2014 no Brasil houveram várias manifestações populares e espontâneas nas ruas  de várias cidades do país. As mobilizações auto-organizadas e em massa tiveram seu ápice em junho de 2013 durante a Copa das Confederações da FIFA. Em 2013 os efeitos das políticas neoliberais (chamadas de políticas de austeridade fiscal) do governo Dilma Roussef (PT) juntamente com os altos gastos para a preparação do Mega Evento Copa 2014 provocaram o aumento do custo de vida e o empobrecimento das classes mais baixas da população. A realização de mega-eventos é capaz de gerar para o país anfitrião o aumento dos preços de produtos em geral e também da inflação, que somados aos excessivos gastos nas construções de arenas e palcos esportivos invertem as prioridades dos gastos públicos. 
Ainda em 2013 enquanto o governo gastava 30 bilhões de reais com suntuosas e descartáveis arenas "padrão FIFA" a população estava nas ruas reivindicando maiores investimentos em saúde, educação e também lutando contra o aumento das tarifas do transporte urbano. 
Em resposta o governo reagiu com forte repressão e grande força policial nas ruas, atacando manifestantes indefesos com cães, bombas de gás, balas de borracha, prisões arbitrárias e ainda judicialização e criminalização aos movimentos sociais. Vários estudantes, professores e trabalhadores em geral foram presos e torturados antes, durante e depois da realização da Copa FIFA 2014 no Brasil.

Funcionários Públicos do Estado do Rio de Janeiro realizam Assembleia Geral no centro da cidade para reivindicar os salários atrasados em 13/07/16.
Atualmente o cenário no Brasil para os Jogos Olímpicos não é diferente. Tais fatos evidenciam que o terrorismo é uma marca inerente ao próprio Estado, e que o discurso de "Estado democrático de direitos" é uma mera falácia. No capitalismo a democracia é apenas um discurso de retórica da burguesia dominante para legitimar o seu poder. Não existe democracia no capitalismo, o único direito que existe de fato é o da circulação de mercadorias.

O Terrorismo de Estado: violência e repressão policial na desocupação da Vila Autódromo no Rio de Janeiro para construção das arenas olímpicas da Rio 2016.


Terrorismo na Rio 2016: milhares de famílias são desalojadas no
Rio de Janeiro em virtude das Olimpíadas Rio 2016.

Durante a preparação para a Copa 2014 no Brasil o governo brasileiro, pressionado pelo capital internacional, tentou aprovar a chamada (ironicamente) "Lei Anti-Terrorismo" que procurava coibir e aniquilar por completo o direito de manifestações, greves e de mobilizações populares. Entretanto esta lei não fora aprovada naquele ano devido a intensa e contínua mobilização popular nas ruas (fora apenas adiada). Esta lei tipifica como ato de terrorismo qualquer forma de manifestação, seja ela pacífica ou não, enquadrando os envolvidos como terroristas e com pena de prisão que pode chegar a mais de 14 anos de cadeia em regime fechado. 

Terrorismo no Rio de Janeiro: Mendigos dormem ao relento no centro do Rio, a capital "Olímpica". Foram destinados cerca de 45 bilhões para os Jogos do Rio e milhares de moradores não tem se quer onde morar.

Terrorismo: Mendigo dorme sob a marquise do HSBC no centro do Rio.
Cadê o legado olímpico?


Afinal de contas, quem é o sujeito terrorista nesta história? Obviamente o Estado capitalista que tem como único objetivo a manutenção do sistema produtor de mercadorias e a reprodução da exploração sobre a classe trabalhadora. A violência e a repressão policial formam o instrumento mais eficaz do Estado a fim de garantir a preservação da propriedade privada e o direito das classes altas na contínua exploração sobre as classes trabalhadoras.




Terrorismo: preço do leite no Estado do Rio de Janeiro - R$ 4,49.

Na capital fluminense milhares de famílias foram expulsas de suas residências em virtude das desocupações provocadas pela forte especulação imobiliária promovida pelos mega eventos Copa do Mundo FIFA 2014 e Olimpíadas 2016. O caso mais emblemático foi a retirada a força de moradores da Vila Autódromo com uso de tropa de choque e violência policial para construção das arenas olímpicas da Rio 2016. (ver fotos acima).
Atualmente na cidade do Rio de Janeiro, também como consequência do mega evento olimpíadas a inflação na cidade assume números alarmantes, puxando a alta dos preços dos alimentos e aluguéis. O litro de leite, por exemplo, está sendo vendido a R$ 4,50, sofrendo aumento de mais de 50% nos últimos trinta dias. Como se não bastasse, no dia 21/07/16, o Banco Central manteve a taxa de juros anual no Brasil em 14,25%, fazendo subir ainda mais o custo de vida no país. Contraditoriamente os gastos com as Olimpíadas já chegam a cifra de 45 bilhões de reais e os professores e funcionários públicos do Estado do Rio de Janeiro estão há cerca de 3 meses sem receber os salários. Qual o nome que se dá a isso tudo? TE-RRO-RIS-MO!


Estado Policial nas olimpíadas do Rio: Polícia para quem? Para os trabalhadores!
As Forças Armadas, a Guarda Nacional e a Polícia Militar carioca se organizam conjuntamente para deter não os terroristas do E.I., mas sim os movimentos sociais brasileiros que podem atrapalhar a imagem dos jogos e também os lucros do COI, Coca-Cola, Samsung, Bradesco, MacDonalds, Hyundai e os demais patrocinadores dos Jogos Rio 2016. Prova disso foi o desembarque de 80 soldados das tropas de fuzileiros navais na orla do Flamengo no último dia 19 de julho, simulando uma ação anti-protesto na "Cidade Maravilhosa". (ver a primeira foto acima)
Na madrugada de hoje (22/07/16) a Polícia Federal, para dar continuidade ao terrorismo de Estado e ao espetáculo midiático olímpico da Rio 2016 prendeu várias pessoas, entre elas professores, estudantes e trabalhadores acusados de terrorismo apenas por entrarem em sites islâmicos ou por postarem fotos com armas de paintball no facebook. O Estado terrorista no Brasil prende aleatoriamente pessoas sem provas de crimes ou qualquer outro fato que ligue tais sujeitos à organizações criminosas ou ações terroristas internacionais, para justificar apenas uma pseudo-segurança no país e garantir os grandes lucros da indústria do turismo e dos mega-eventos internacionais.
Na verdade este show midiático faz parte de um plano estratégico para justificar o Estado de Polícia no Rio de Janeiro e também os excessivos gastos com os aparatos repressivos, criando uma verdadeira teoria da conspiração (paranoia) sobre a população, tentando desviar o foco da discussão sobre o Terrorismo do Estado, objetivando inculcar na mente dos brasileiros que o terrorista não é o Estado mas sim as pessoas supostamente ligadas ao E.I. Os fatos demonstram que para o Estado Policial o verdadeiro inimigo a ser combatido é justamente a classe trabalhadora, não os terroristas distantes de outro continente. Na visão do Estado capitalista esta classe pobre necessita ser reprimida e contida pela força e pela violência do próprio Estado.


Terrorismo: transporte público  sempre lotado no Rio de Janeiro (VLT em 21/07/16)

O grande problema atual é que a "Lei Anti-Terrorismo" aprovada ainda no governo Dilma Roussef (PT) em 2016 já está em vigor e potencializa ainda mais a violência do Estado contra cidadãos e trabalhadores que queiram se manifestar contra o atual quadro de barbárie e injustiças imposto pelo grande capital. O legado olímpico será mais criminalização e judicialização aos movimentos sociais e prisão de trabalhadores, grevistas e professores.
Terrorista é o Estado que mantém a ordem capitalista em detrimento da liberdade e direitos dos trabalhadores.

QUE COMECEM OS JOGOS!


sexta-feira, 8 de julho de 2016

Brasil Olímpico: as contradições na trajetória da tocha olímpica

"A vedete do espetáculo, a representação espetacular do homem vivo, ao concentrar em si a imagem de um papel possível, concentra pois essa banalidade (...) num caso, é o poder governamental que se personaliza em pseudovedete; no outro, é a vedete do consumo que se submete a plebiscito como pseudopoder sobre o vivido" (GUY DEBORD)

Estado atual da tabela de basquete de área pública na cidade de Goiânia

Na trajetória do revezamento da Tocha Olímpica se encontra a cidade de Goiânia, a capital de Goiás, com uma população de cerca de 1.400.000 habitantes, e assim como as demais cidades brasileiras que recepcionaram a tocha, gastou-se milhões de reais para "maquiar" somente as ruas e avenidas escolhidas para a caminhada do revezamento da tocha. Jardinagem renovada, meios fios pintados, asfaltos recapeados, parques reformados, praças revitalizadas e prédios públicos com novas pinturas, mas apenas para satisfazer as exigências das transmissões televisivas em escala global, pois a cidade também deve transmitir uma estética "agradável" para com que ela própria se torne também mercadoria e faça parte das olimpíadas do espetáculo.
Reforma de área esportiva popular em Goiânia se arrasta por vário anos
Mais de 2 milhões de reais gastos em obras inacabadas

Nas Olimpíadas Rio 2016 a maior revelação que se observa no Brasil não é o número de medalhas que o país pode ou não conquistar, mas sim a plena exclusão da maior parte da população às práticas de esporte e de lazer. 
O esporte olímpico refere-se ao chamado esporte de alto rendimento, que envolve treinamento contínuo de atletas, altos investimentos, grande preparação e planejamento, porém acessível apenas a uma pequena elite de atletas com altos índices internacionais de desempenho que podem competir e também a um seleto número de clientes-torcedores que podem comprar os ingressos e contemplarem  os jogos nas caras e suntuosas arenas esportivas.
Mas quando se fala em esporte popular gratuito como forma de relacionamento, entretenimento, gozo, participação e humanização, então revela-se a total contradição do chamado "Brasil Olímpico". O Brasil sedia o maior e mais caro de todos os eventos esportivos do planeta, mas contraditoriamente não oferece à sua população o acesso ao esporte de forma pública, gratuita e democrática.

Estado de abandono da Praça dos Esportes Pedro Ludovico Teixeira 
O "País Olímpico" e o sucateamento dos equipamentos públicos de esporte em Goiânia

Uma grande ironia e também um bom exemplo desta "contradição olímpica" se refere à chamada Praça de Esportes do Setor Pedro Ludovico Teixeira localizada na periferia da cidade de Goiânia (ironicamente esta foi a primeira capital a receber o revezamento da tocha olímpica após a sua chegada em Brasília) e que deveria servir de acesso ao esporte e ao lazer público e gratuito para crianças, jovens, adultos e idosos, mas que se encontra atualmente praticamente abandonado e sucateado pelo poder público estadual. 

Olimpíadas para quem ?


A Praça de Esportes Pedro Ludovico Teixeira que leva o nome do fundador da cidade, é uma das mais antigas áreas de lazer da cidade. Ainda quando em funcionamento oferecia práticas esportivas gratuitas à população goianiense tais como futebol, lutas, natação, atletismo, jogos de mesa e até hidroginástica aos idosos do bairro. Há cerca de 5 anos foram paralisadas todas as atividades para início das reformas. Após vários anos de abandono total as obras somente iniciaram  em  2014. Entretanto, ainda em 2015 as obras foram paralisadas novamente e somente reiniciadas a partir de 2016 pelo governo estadual, deixando mais uma vez a população goianiense sem acesso a esta importante área de esporte e de lazer da capital. 
Não de forma coincidente o bairro Pedro Ludovico Teixeira, onde se encontra esta importante área de lazer, é também considerado um dos bairros mais violentos da cidade, entrando nas estatísticas das áreas de maior criminalidade de Goiânia.


As obras se arrastam até hoje e mais de R$ 2.000.000,00 já foram gastos e ainda encontra-se inacabada e sem prazo de entrega. Este é mais um exemplo das políticas neoliberais do governo que aniquilam por completo o esporte e o lazer público, a fim de favorecer tão somente o capital privado das indústrias dos megaeventos, dos shopping centers, do entretenimento privado e do esporte globalizado do grande capital internacional (Coca-Cola, MacDonald's, Nike, COI, FIFA e etc.). 
Ao contrário do que se observa em relação aos gastos e investimentos nas Olimpíadas Rio 2016, onde as obras encontram-se todas concluídas de acordo com o calendário previsto (R$ 45.000.000.000,00!!), as políticas públicas de esporte e de lazer não somente em Goiânia, como também na cidade do Rio de Janeiro e na maioria das cidades brasileiras são inexistentes e revelam as contradições do esporte excludente do nosso "Brasil Olímpico".

Moradores de Goiânia reclamam do abandono da praça de esportes
e também na demora na finalização das obras


 QUE COMECEM OS JOGOS!

terça-feira, 5 de julho de 2016

Fora Tocha: Mobilização contra a Tocha Olímpica em Goiânia




"Sem dúvida, o conceito crítico do espetáculo pode também ser divulgado em qualquer fórmula vazia da retórica sociológico-política para explicar e denunciar abstratamente tudo, e assim servir de defesa do sistema espetacular" (GUY DEBORD)

A primeira cidade a ter manifestações e mobilizações contrárias ao revezamento da Tocha Olímpica no Brasil, após a capital Federal (Brasília) onde também houveram manifestações, foi a cidade de Goiânia (capital do Estado de Goiás). Estudantes e professores da Universidade Estadual de Goiás (UEG) e pertencentes ao movimento auto-organizado e independente denominado Mobiliza UEG foram às ruas de Goiânia no dia 05 de maio de 2016 , dia da chegada da Tocha Olímpica na cidade com faixas, cartazes e um megafone.  
Em meio à multidão, além de gritarem palavras de ordem, estenderam as faixas e cartazes na trajetória da Tocha Olímpica com os dizeres: "OLIMPÍADAS PARA QUEM?", "CADÊ A REFORMA DA ESEFFEGO/UEG?" e  "ABAIXO A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE NA UEG".
Os professores e alunos reivindicavam a reforma pelo governo do Estado da mais antiga faculdade de educação física do Estado de Goiás, chamada de ESEFFEGO, que atualmente se encontra totalmente sucateada e abandonada pelo poder público. No megafone os professores relatavam a imensa contradição entre os gastos olímpicos (R$ 42.000.000.000,00) e o abandono dos equipamentos e prédios do campus que abriga o mais tradicional e antigo curso de licenciatura em educação física de Goiás. 
Os professores exigiam ainda a revogação da Resolução CsU 2015/01 que promove a intensificação do trabalho docente na UEG (aumento de carga horária de trabalho e sem aumento salarial).
O grande destaque sem dúvidas foi a imensa faixa em tecido carregada pelos estudantes com a frase: "Olimpíadas para quem?". Todos já sabem a resposta óbvia a esta pergunta. 
Resposta: para o grande capital internacional globalizado que transformou o esporte em espetáculo e em mercadoria.

QUE COMECEM OS JOGOS!

Brasil Olímpico e a Inflação: os preços são ouro!


PREÇO DE OURO:
1 litro de leite sendo vendido a R$ 3,99
 (aumento de 100% a um mês
do início dos Jogos Olímpicos
Rio 2016).

"O mundo presente e ausente que o espetáculo faz ver é o mundo da mercadoria dominando tudo o que é vivido. E o mundo da mercadoria é assim mostrado como ele é, pois seu movimento é idêntico ao afastamento dos homens entre si e em relação a tudo que produzem." (Guy Debord)

Assim como nos meses que antecederam a COPA FIFA 2014 no Brasil, a inflação mais uma vez assusta os brasileiros. Os Mega Eventos Esportivos, além de promoverem a mercantilização do esporte, alavancam a especulação imobiliária nas cidades sedes e também o aumento do custo de vida através do aumento dos preços de alimentos e do transporte urbano em todo o país.
Em 2013 a "gota d'água" foi o aumento nas tarifas do transporte coletivo no Brasil, que levou principalmente a população pobre e da periferia às ruas em grandes manifestações espontâneas e populares. Naquele período, às vésperas da COPA 2014, os alimentos, os combustíveis e o custo de vida de forma em geral sofreram impactos da alta inflacionária na economia, cuja elevação era promovida também pelo Mega evento Copa do Mundo de Futebol FIFA. Contraditoriamente o governo investiu naquela época cerca de R$ 30.000.000.000,00 ( trinta bilhões de reais!) nas construções de arenas e em obras para a realização da Copa FIFA 2014. Lembrando que muitas destas arenas se transformaram em "Elefantes Brancos" como as arenas de Cuiabá, Manaus, Natal e até mesmo o famoso Maracanã, onde foi realizada a final da Copa 2014, que já foi devolvido ao Estado do Rio de Janeiro pelo grupo gestor formado por empresas privadas, sob a alegação de não obterem lucros na administração do Maracanã em virtude dos altos gastos de manutenção e com os prejuízos da arena.
PREÇO DE OURO:
1 kg de feijão sendo vendido a
 R$ 11,90 (aumento de
cerca de 400% no último mês)
Atualmente a população brasileira vem assistindo o mesmo fenômeno às vésperas do início das Olimpíadas RIO 2016. O preço dos alimentos alcançam valores inimagináveis e os combustíveis assumem preços assustadores (em média R$ 4,00/litro da gasolina), fazendo diminuir o poder aquisitivo da classe trabalhadora e aumentando os níveis da pobreza e da miséria em todo o país. Da mesma forma que em 2014, contraditoriamente os gastos com as olimpíadas Rio 2016 já ultrapassam a cifra dos R$ 45.000.000.000,00 (45 bilhões de reais!), ou seja, mais de quatro vezes os gastos com a Copa Fifa 2014.
Além do aumento vertiginoso nos preços dos produtos da cesta básica sempre às vésperas dos Mega Eventos,  também já foi constatado por pesquisas o grande aumento dos assassinatos e  extermínios de jovens e crianças (principalmente negros) moradores da periferia das cidades sedes por agentes da polícia (PM), justamente nos anos de realização de mega eventos no Brasil (Copa 2014 e Jogos Rio 2016). 
Alho vendido a preço de ouro no Brasil: R$ 35,90/kg

O próprio Estado se prontifica em assassinar moradores pobres, como forma de implementação de "políticas de higienização e de extermínio em massa" a fim de garantir a realização e o bom andamento dos Mega Eventos patrocinados pelo grande capital internacional globalizado. 
Na cidade do Rio de Janeiro o massacre de moradores da periferia por policiais das UPP's (Unidades de Polícia Pacificadora), também pelas Forças Armadas e pela Guarda Nacional que ocupam as favelas é algo notório e que vem sendo publicizado nas TV's e jornais de todo o mundo. E este continua a ser o tenebroso e atual cenário da capital carioca nestes dias que antecedem as Olimpíadas Rio 2016. Cadê o Amarildo?

Que Comecem os jogos!

PREÇO DE OURO:
Alimento típico do prato do brasileiro se torna ostentação:
R$ 12,90/kg